1. Em que ano começou a sua carreira como cineastra?
- Fiz meu primeiro filme em 1961, tinha vinte anos de idade. Era um
documentário de dez minutos sobre uma festa popular no bairro da
Ribeira, em Salvador, se chamava “Festa” e não sei se ainda existe.
Antes disso, desde os dezessete ou dezoito anos de idade, era crítico de
cinema, escrevia sobre filmes nos jornais.
2. Com qual objetivo saiu de Lençóis?
- Com o objetivo de estudar e conhecer o mundo. No início da década de
1950 só havia o curso primário em Lençóis, quem quisesse ou pudesse
continuar os estudos tinha de ir para o colégio de Ponte Nova, em
Wagner, ou para Salvador. Fui para Salvador. Além da questão do estudo,
minha vontade de conhecer uma cidade grande era muito forte, inclusive
porque achava que este era o caminho para realizar meu sonho de conhecer
outros países.
3. Seu sonho era mesmo ser cineastra?
- Era um dos sonhos, junto com esse sonho de conhecer o mundo, com o
sonho de ser escritor e com outros. Foi tratando de realizar esses
sonhos que me transformei no que sou hoje: um viajante que faz livros e
filmes. Mas, certamente, a sedução do cinema foi muito forte desde a
minha infância em Lençóis, com o Cine Rex.
4. Quais foram as pessoas que lhe ajudaram nessa jornada?
- Muitas. Meu esporte favorito é a amizade e os amigos sempre me
apoiaram, me criticaram na hora certa, me deram força. Uma das ajudas
mais importantes que recebi foi da população de Lençóis em 1976 e 1977,
quando realizamos o filme “Diamante bruto”, um trabalho comunitário, um
filme que só poderia ser feito se toda a comunidade participasse. Foi um
momento muito bonito, muito especial na minha jornada como cineasta.
5. Como é sua ligação com Lençóis?
- Quando você perguntou com que objetivo saí de Lençóis fiquei pensando
que realmente nunca saí, nunca fui embora. Apenas saio e volto. O
período mais longo que passei sem estar em Lençóis foi de seis anos,
entre 1968 e 1975, uma época muito intensa na minha vida, com muito
trabalho, muitas viagens ao exterior e enfrentando perseguições da
ditadura. Fora esse período, todo ano dou um tempo em Lençóis. Me sinto
renovado, energizado, quando estou na minha terra.
6. Fala um pouco sobre seu trabalho.
- Meu trabalho é pensar sobre a vida e o mundo e traduzir minha
opinião, meu ponto de vista, em imagens e palavras. É o que todo artista
faz, transmitir seu entendimento da vida em pinturas, esculturas,
danças, músicas, livros, filmes ou qualquer outra forma de expressão. A
intenção e a esperança dos artistas é fazer outras pessoas se
emocionarem mais e pensar mais. O artista trabalha com a emoção e,
através dela, prentende chegar à razão, estimular novos pensamentos. Com
essa intenção participei de uns trinta filmes, escrevi meia dúzia de
livros e também me dediquei (me dedico) à formação de jovens cineastas e
escritores. É um trabalho que me dá prazer, me faz sentir útil.
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